segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Deslocal

O petróleo não tem um percurso fácil desde a sua extracção até ao depósito dos veículos. Corre muito sangue para que alguns privilegiados possam abastecer o carro, visto o domínio sobre os países que detêm as maiores zonas de exploração petrolífera nunca ser fácil. Em Portugal, embora tenhamos apoiado recentes invasões a países estrangeiros devido ao consumo de petróleo, nunca tivemos consequências disso. O espectro do terrorismo difundido pelos mass media provoca nos portugueses pouco mais que indiferença. Tudo parece distante e continua-se a consumir sem se ter bem a noção de onde tudo vem e sem sequer haver muita preocupação em descobrir.
O que se pretende neste projecto é um confronto entre realidades. O deslocar uma realidade para dentro de outra, unindo-as por um elemento comum que é neste caso o petróleo, pode provocar tensões muito fortes. O projecto consta assim da colocação clandestina de uma figura humana de tamanho real, similar à imagem do terrorista típico que se vê na comunicação social, munido com uma réplica de uma metralhadora AK-47 numa bomba de gasolina da Rua Júlio Dinis, no Porto. A peça, instalada num muro com uma altura considerável e de difícil acesso, parece estar a observar os consumidores de combustível. Embora não tenha ficado no local muito mais que umas horas, a sua presença foi suficiente para causar alguma inquietação e sensação de insegurança em quem abasteceu naquele local. Como registo fica um vídeo documental que inclui a instalação da peça e a reacção de quem estava responsável pelo estabelecimento na altura.





Vazios

Pretende-se com este projecto estudar os espaços neutros de movimento e acção dentro dos circuitos de circulação da sociedade, como forma de materializar uma preocupação em questionar a organização do espaço público e da forma como este é usufruído pelos seus utilizadores. Ao considerar as ruas como uma área partilhada, utilizada de várias formas, preenchida por vários objectos, onde ocorre movimento, onde se definem percursos dentro da trama urbana, pode-se entender uma área onde isso não aconteça como uma zona de interrupção, que não serve o propósito do espaço.
A intervenção define-se então pela aplicação de objectos insufláveis de vários formatos, elaborados com manga plástica transparente, nos espaços mortos da rua. Esses elementos são produzidos em função dos intervalos que vão ocupar, tendo cada um deles uma forma específica consoante essa área (a parte inferior de um banco da rua, um espaço entre um poste e uma parede, etc.)
Como objectivo final, procura-se obter uma solução plástica onde toda a rua terá os seus espaços mortos preenchidos e ocupados, embora na realidade a sua ocupação seja mínima, mais psicológica que física, visto que todo o espaço continuará ocupado apenas por ar. A única diferença é que existe uma fronteira visível entre o ar que se encontra no intervalo e o restante que existe nos espaços úteis da rua. Esses intervalos são assim activados e destacados do resto da rua. começam a ser notados de forma inversa a antes de estarem "preenchidos". Procura-se que os elementos que circulam na rua comecem a encarar esses espaços como zonas passíveis de utilização e não como zonas neutras, quase inexistentes.






Uma Resposta

No dia 17 de Novembro de 2007 foi inaugurada na Avenida dos Aliados, no Porto, uma estrutura metálica patrocinada por uma instituição bancária, como forma de publicitar a época natalícia. Porém, para muitas pessoas, esta representação em grande escala de um pinheiro não passa de um símbolo de consumo, hipocrisia e excesso de publicidade no espaço público. Como resposta, pretendia-se comunicar uma visão alternativa sobre a época e que qualquer uma deve ter o direito de existir e não ser censurada, não devendo existir apenas um ponto de vista acerca de algo na cultura visual que se encontra no espaço público. Para tal foi decidido utilizar a mesma arma, colocando um outro volume no mesmo espaço. Foi assim instalado clandestinamente no dia 20 de Dezembro de 2007 um pinheiro estilizado, partido ao meio e pintado de negro, em contraste com a megalómana e iluminada estrutura vizinha. A intervenção viveu no espaço durante 47 dias, acabando por ser retirada a 5 de Fevereiro de 2008 por, provavelmente, funcionários camarários. Durante o tempo em que esteve instalada a peça esteve sujeita a várias agressões externas, desde chuva, ataque de transeuntes, montagens de estruturas em redor, foi desmontada e voltada a montar no mesmo local por terceiros e, finalmente, retirada permanentemente, estando agora em parte incerta. Como registo ficou um filme documental da intervenção que a levou da rua para o Museu, ao ser projectado no evento Serralves em Festa 2008, no Museu de Serralves.